quarta-feira, 20 de junho de 2012

A Grécia, o Brasil e o Itaquerão

                Apesar de não ser economista de profissão, sou um apaixonado pelo efeito complexo que envolve o tema. Desta forma, segue um “pitaco” - reflexo de tudo que consegui ler e entender a respeito, até o momento, no que se refere à Nova Crise.
                A Grécia
                A Grécia está à beira de deixar a Zona do Euro. O país tem o parlamento dividido igualmente entre os grupos que apoiam e se opõem, às políticas de austeridade associadas a um fundo de resgate acordado com os credores. A esmagadora maioria dos gregos quer manter o euro, mas se opõe às condições de austeridade acordadas com a União Europeia e o (FMI). Sem um resgate financeiro internacional, os salários e pensões atrasariam, num cenário propício à propagação da violência, do extremismo político e a uma emigração desenfreada (em Atenas, há cada vez mais sem-teto nas ruas, a distribuição de refeições atende o dobro de pessoas do que há um ano, e os pobres vasculham o lixo atrás de alguma sucata que possam vender).
                O fato de um país deixar a zona do euro já foi algo impensável, mas agora parece ser uma perspectiva cada vez mais plausível. Esse cenário deixaria a Grécia próxima de ser um Estado falido, marginalizado dentro da União Europeia, uma das sociedades mais prósperas que o mundo já conheceu.
                A Grécia importa 40% dos alimentos que consome, boa parte de todo o seu petróleo e gás natural, e grande parte dos seus medicamentos. Em caso de saída da zona do euro, os fornecedores estrangeiros simplesmente fechariam as portas até a situação se acalmar, o que causaria uma grave escassez de produtos básicos, motivando por sua vez sérios distúrbios, pois os produtos que chegassem ao país ficariam a preços proibitivos e a população teria de  recorrer ao escambo durante um período de transição entre as duas moedas. Alguns dizem que a saída grega não significa o fim do euro, pois contingências estariam sendo elaboradas.
                Existe uma percepção entre alguns que a dívida não tem solução, exceto se for criado um mecanismos de absorção da mesma (a saída da Grécia provavelmente viria acompanhada de um calote em todos os credores internacionais que provocaria uma quebradeira em vários bancos europeus, similarmente ao que ocorreu em 2008). Evidentemente que por estarmos inseridos em uma rede complexa, onde todos estão interligados, países podem ajudar, o FMI pode ajudar, mas, sobretudo, deve ser reconhecido que “o pepino é europeu”. Criar um fundo para absorvê-la e reescalona-la, limpar o balanço dos bancos e acionar mecanismos para assegurar a continuidade do financiamento desses países poderia ser o posicionamento mais indicado (o Brasil já fez isto em outras situações – temos vários exemplos).
                A Espanha, Itália e Portugal estão no centro das preocupações, com temor sobre a capacidade de lidar com seu endividamento e problemas bancários. Os mercados estão em uma encruzilhada devido a eminente possibilidade de um risco sistêmico.

                O Brasil
                A saída da Grécia da zona do euro, para o Brasil, implicaria maior desvalorização do real, dificuldade para obtenção de crédito internacional e queda das cotações das commodities (as exportações brasileiras caem devido à recessão europeia). No pior cenário projetado, o país entraria em recessão. Neste cenário de estresse máximo, chega-se a projetar queda de 1% no PIB (Produto Interno Bruto) e  dólar  fechando 2012 cotado a R$ 2,40.
                A desvalorização do real em relação ao dólar ajuda alguns setores da economia, mas pode encarecer itens de vários outros que dependem de insumos importados, como os eletroeletrônicos. A desvalorização deve continuar com tendência de alta até dezembro, sendo esse movimento reflexo da crise europeia (que tudo indica não deve ser resolvida no curto prazo)  onde os Investidores têm investido em títulos do governo americano, considerados os mais seguros do mundo, e esperam a crise passar.
                A valorização do dólar, apesar de trazer perspectivas positivas para o produto brasileiro que se torna mais competitivo frente aos importados, pode ser também uma fonte de preocupação para parte da indústria. Isso porque a alta da moeda americana tem impacto direto nas tarifas de energia elétrica (a manutenção de um dólar cotado na casa dos R$ 2 pode significar um reajuste entre 2% e 4% na tarifa de energia).  A desvalorização, em algumas esferas do governo, é recebida como um quadro de um o câmbio “bem posicionado” aliado a uma taxa de juros real caindo a um nível “civilizado” basta apenas agora o Brasil ter, preços deflacionando rapidamente, estabilidade fiscal e contínua queda da relação entre dívida e PIB, tudo isto junto, dará a sustentabilidade à expansão econômica. “Só não podemos esquecer de combinar com os russos....”.
                Diante de todos os fatos (e contra fatos não existem argumentos) os integrantes do Ministério da Fazenda deram início a uma campanha para trabalhar nas expectativas dos empresários passando a mensagem que “olhar só para o curto prazo, não é a melhor das alternativas”. Ocorre que, não olhar para o curto prazo ou não ter a definição consistente, também não é uma prática aceitável.  Com um quadro deste, o governo seria obrigado a lançar mão de uma série de medidas de estímulo ainda mais ousadas, como a redução da taxa básica de juros,  inéditos 5% e o governo ampliar os gastos públicos (isto vai facilitar as coisas para as obras da Copa e do Itaquerão).

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